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doenças mentais em período de pandemia

Algumas pessoas podem não saber o significado da palavra saúde mental, ou podem até mesmo confundi-la com doença ou transtorno mental. A saúde mental está ligada a própria saúde em si, e os outros dois termos a falta dela. Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), não existe um termo oficial que defina exatamente a palavra em si.

O Hospital Albert Einstein associa o termo a reação das exigências que as pessoas fazem, seja pela harmonia de ideias e emoções. O que torna uma sequência de emoções, sejam elas boas ou ruins, e isso faz parte da vida. Portanto a forma como as pessoas lidam com suas emoções é que irão defini-las, e definir assim a qualidade da saúde mental de cada um.

O desequilíbrio emocional facilita o surgimento de doenças mentais, desse jeito a saúde mental engloba vários fatores, entre eles está a capacidade de sentir-se bem e em harmonia. Assim como o fato de conseguir lidar e manejar com adversidades em meio a dificuldades, saber se relacionar com o outro está também atribuído a essa saúde mental. A falta dela está relacionada as dificuldades de lidar com as emoções, assim como problemáticas do dia-a-dia, causando: estresse, brigas, atrasos, doenças, incapacidades, limitações, dentre outros. São fatores que causam a falta dessa saúde mental.

Marilda Lipp, psicóloga e diretora do Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS), explica as razões nas quais os coronavírus está impactando de forma extrema na vida das pessoas, e na saúde mental de cada uma. Para ela está relacionando com a letalidade do vírus, causando nas pessoas um desespero coletivo. Esse medo está relacionado a esse período de incertezas, causando angústia nas pessoas, ansiedade por medo de adquirir o vírus e não conseguir leitos para tratamento.

A ambivalência do Governo também pode ser caracterizada como causa do medo coletivo das pessoas. O impasse de informações sobre a suspensão ou não do isolamento social, pode despertar na população uma falta de cuidado, se sentindo desprotegido. Um outro fator é quantidade de informações sobre o vírus a todo momento durante todos os dias, número com atualização de morte e contaminados, esse excesso de informação também é um causador de pânico. O perigo do consumo de muita informação também e dado pela dúvida da veracidade das notícias, ou seja as pessoas podem estar consumindo Fake News sobre o assunto, afetando assim, ainda mais a saúde mental de todos.

Para a psicóloga Marild Lipp, o que afeta no isolamento social para até mesmo aqueles que gostam de trabalhar em casa, é a obrigatoriedade de se estar em casa. Algo que é imposto e por um tempo indeterminado, tende a ser angustiante, causando estresse emocional. Em surtos ocorridos pelo SARS no ano de 2002, 2003, assim como o Ebola em 2014, o que restou depois dessas epidemias foram as doenças mentais, e que provavelmente irá se repetir em uma pós-pandemia. Segundo a psicóloga muitos podem adquirir um stress pós-traumático.

A respeito das doenças mentais que esse período de pandemia está trazendo para as pessoas, médicos estão orientando seus pacientes, e até mesmo aqueles que não seus pacientes. Através das redes sociais eles informam a como manter os cuidados com a saúde mental até que esse período passe. O médico Renato Barra da clínica IMEB traz 5 dicas de como manter esses cuidados.

O doutor Marco Antônio Abud, psiquiatra pela Universidade de São Paulo, explica o que está acontecendo com a saúde mental das pessoas nessa pandemia de coronavírus. Ele explica que nosso cérebro possui um circuito de informações feito para a detecção de ameaças iminentes que podem vir a atacar o corpo humano. O cérebro humano possui uma maior facilidade para detectar ameaças novas do que as já estamos acostumados a vivenciar, dessa forma esse novo vírus está deixando todos em estado de apreensão.

O necessário nesse momento é o cuidado para se informar sobre essa nova ameaça. Limitar o consumo de notícias durante o dia, para evitar preocupação e a ansiedade entre aqueles que possuem problemas com a doença. Abud chama atenção para que evitem fazer o consumo de bebidas alcoólicas, ou outra substancias com o intuito de diminuir a ansiedade. Segundo ele, isso pode diminuir a taxa de imunidade do organismo.

O Historiador e Filósofo Leandro Karnal, fala sobre o isolamento social, explicando a diferença da solidão e da solitute nesse momento de isolamento social. Para ele a solitute é a capacidade de estar sozinho consigo, algo positivo, pois para ele estar acompanhado não significa ausência de solidão, quando alguém está na companhia de outro que não o apoia, essa pessoa está em uma companhia solitária a dois. A maior questão para ele não está relacionada entre a solidão ou a companhia de alguém, mas sim o que cada um faz em seu tempo. A virtude de saber ficar sozinho é importante, a solitude é necessária, já a solidão é preocupante.

O CVV (Centro de Valorização da Vida), é uma ONG (Organização Não Governamental), tem como função realizar apoio emocional e prevenção do suicídio. Nesse período de pandemia, os casos de doenças mentais tendem agravar, já para aqueles que nunca apresentaram problemas relacionados podem demonstrar. O CVV possui um atendimento voluntário, e gratuito, ajudando pessoas que querem e precisam conversar.

 

O atendimento prestado pela ONG é restrito, e podendo ser em anonimato se a pessoa optar. Atendem 24 horas por dia pelo telefone, e-mail e pelo chat. Durante o período de isolamento o CVV está com o número de atendentes reduzidos, para a segurança de todos. Fica suspenso temporariamente os atendimentos pessoais e ações na comunidade.

CVV

 

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma Organização Não Governamental (ONG) que possui voluntários dispostos a dar apoio para aqueles que passam por problemas psicológicos e emocionais. O intuito é dar apoio emocional e ajudar na prevenção do suicídio. A porta voz Leila Herédia, voluntária do CVV há quase 9 anos, explica que o Centro de Valorização da Vida atende as pessoas com total sigilo e anonimato.

Para ela, nesse período de isolamento, falar sobre as emoções, sejam elas quais forem, ajuda as pessoas a se sentirem melhor. Ela compara a ONG a um pronto socorro emocional. Conta que o CVV está mantendo os atendimentos 24 horas por dia, através do telefone 188. Leila relata que ano a ano um número maior de pessoas tem ligado, e completa dizendo que o CVV recebe uma média de 8 mil chamados por dia.

No ano passado, recebeu uma média de 3 milhões de ligações. E sobre as formas de ajudar aqueles que precisam, a voluntária fala que “a empatia não está ligada necessariamente a estar presente fisicamente com outro, é possível compreender e respeitar o outro mesmo não estando presente”. E dá exemplos dos aplicativos de vídeo que podem aproximar as pessoas umas das outras nesse período.

A voluntária alerta as pessoas a prestarem atenção em quem demonstra mudanças, seja no afastamento ou estando mais quieta, pois essas são maneiras de ajudar quem precisa. Ressalta que no CVV são todos voluntários, e não profissionais, que não substituem qualquer tipo de serviço profissional, pois atendem e falam sobre emoções no momento em que as pessoas ligam.

 

Visão antropológica sobre a pandemia

 

A atual situação do mundo causa incerteza em todos as áreas, para todos. O mundo ficará em uma divisão entre: antes da pandemia e pós-pandemia. O antropólogo Cláudio Ferreira conta que essa pandemia pode ser considerada como um marco histórico para várias gerações, principalmente aquelas de pessoas com 40, 50 anos. Explica que o mundo das gerações passadas foi um mundo de muito apogeu, consumismo, nada tocou tanto as pessoas como esta pandemia.

O antropólogo explica que as relações da cultura do entretenimento e de consumo estão sendo e serão as mais afetadas, cita que esse será um marco que estará nos livros de História. Fala sobre a relação desse vírus atingir a todas as classes sociais, o que nunca foi visto antes na história do mundo, dando formas interessantes de se perceber o mundo.

Ferreira observa que: “No mundo em que a Europa cresceu tanto, um universo que se desenvolveu tanto tecnologicamente, mas esqueceu de criar um desenvolvimento propício para a área da saúde, agora estão todos impactados com isso”, conclui.

Segundo o antropólogo algo que pode se repetir daqui para frente é o patrulhamento do indivíduo, como está sendo feito nesse período de pandemia, ou seja aumentando cada vez mais um monitoramento das pessoas.

Para o antropólogo, o patrulhamento aconteceria por medo de uma nova pandemia, e acrescenta dizendo que: “o que deve ser pensado a partir disso é a importância que deve ser dada a saúde, a ciência e a pesquisa. Assim como é necessária uma compreensão dos Estados de que a privatização da saúde não funciona, e devem se responsabilizar por isso”, finaliza.

Sobre as questões do isolamento social, para Cláudio Ferreira, o mundo possibilitou muitos avanços tecnológicos trazendo cada vez mais a facilidade das pessoas ficarem em casa. Para ele as pessoas vão reclamar sempre por quaisquer motivos, mas a cultura contemporânea, principalmente em cidades brasileiras com violência, força muitas vezes as pessoas a ficarem em confinamento dentro de casa.

Ferreira conta que o formato da casa e ficar dentro dela tem tomado forma há muito tempo. Para ele a problematicidade atual seja mais pela questão de imposição de uma lei, e a partir dela as pessoas podem não se sentir confortáveis por toda essa conjuntura.

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sobre o autor:

Lays Guimarães, editora de foto e infográfico; autora da reportagem: "Isolamento Social e a Importância do tratamento perante consequências psicológicas"; autora da curadoria jornalística: "doenças mentais em período de pandemia".

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