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com e sem internet

Será que todos precisam da rede mundial de computadores para sobreviver ao isolamento social?

Há algum tempo vivíamos em um cenário onde a dependência do celular, o excesso de internet, a robotização e a pouca humanização gerava grande preocupação. Faltava “olho no olho”, sobrava “olho na tela”. Porém, a pandemia gerada pelo Covid-19 e o consequente isolamento mudaram as regras. O uso constante da internet deixou de ser preocupante e se transformou em algo essencial para a comunicação, a informação, o trabalho, o estudo e até para uma simples atividade contra o tédio.

Mas, e as pessoas sem acesso à internet ou analfabetas digitalmente, como elas estão vivendo nessa quarentena? A aposentada Maria Francisca dos Reis, está em isolamento social há cerca de 40 dias e diz que a internet não faz parte dos seus maiores interesses. Ela prefere atividades que preservem sua saúde e bem-estar: “a internet para mim é ‘tanto faz, tanto fez’, então estou dormido bem, cuidando da alimentação, pois estou com uma maior preocupação com a minha imunidade, fazendo caminhadas em trilhas e costuras, como máscaras para usar ao sair de casa”.

No Centro-Oeste, 30% das pessoas não têm acesso à internet, sendo que 60% não aderem o acesso por acharem muito caro. Os outros motivos são por falta de computador no domicílio, por falta de necessidade, porque não sabem usar a internet, por evitarem contato com conteúdo perigoso, porque os moradores têm preocupação com segurança e privacidade. Esses dados são da pesquisa TIC Domicílios de 2019, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).

Com isso, a rotina dessas pessoas no isolamento social pode ser diferente da realidade virtual e sempre online que a maioria da população tem. Como o caso de Genildes Mendonça, que está de quarentena há cerca de 2 meses e conta que não acessa a internet por falta de conhecimento. “Não usar a internet não me atrapalha em nada. Eu nem sei o que é internet, então tenho feito caminhadas, tomo banho de sol pela manhã, ajudo na cozinha, lavo minhas roupas, passo mais tempo com o meu filho e netos. Inclusive, me distraio fazendo costuras, comendo mais e conversando com os meus parentes”, conta.

 

 

Maria Francisca dos Reis também não usa a rede mundial de computadores e fala sobre o acesso às informações sobre o cenário atual de coronavírus: “ainda preservo meus grandes amigos, o telefone fixo e a TV para informações”.

Ao contrário de Maria Francisca, Genildes diz que prefere não se informar sobre a pandemia nem pelo telefone, nem pela televisão. “Eu não tenho procurado saber, apenas ouço boatos. Eu não tenho interesse em saber sobre o coronavírus, para mim nem existe e não mudou nada, eu nem saio mesmo”.

 

 Quarentena digital

 

Já para as pessoas que possuem acesso à internet, a quarentena tem sido bem diferente. A maioria usa os meios digitais para ter aulas online, fazer teletrabalho e ter lazer digital, usando as redes sociais e serviços de streaming, como Netflix, Globo Play, Telecine Play e Amazon Vídeo.

Dannielly Melo está em isolamento social por cerca de 45 dias e conta: “eu tenho tido aulas e trabalhado online. Eu uso muito as redes sociais para trabalhar e me comunicar com as pessoas da minha sala, para assim, desenvolvermos as atividades que são passadas. Eu uso principalmente o Whatsapp, Instagram, Facebook e E-mail.”

Além disso, Dannielly conta que a internet tem sido essencial para o seu entretenimento no isolamento. “Como estamos muito acostumados com a internet, usamos ela para fazer tudo, principalmente na quarentena, que não tem muita coisa para fazer. Então, o meu entretenimento é baseado em séries, filmes e o Big Brother, que eu assistia pelo Globo Play, ouvir músicas pela internet e acompanhar as lives, que os artistas estão fazendo”.

A estudante Ana Júlia Firmiano, que está em isolamento desde o dia 14 de março, afirma que a internet tem ajudado muito no isolamento, principalmente no seu lazer usando Twitter, Instagram, Netflix, Spotify, Kindle, WhatsApp e Tumblr. A estudante está adquirindo novos hábitos, como ler mais, acessar conteúdos e a estudar com mais frequência.

“A internet permite a minha aproximação com as pessoas que não posso ver, me ajuda a passar o tempo, me possibilita a utilização de muitos recursos e conteúdo. Além de ser essencial nessa época, por exemplo, para o trabalho e estudo. Se eu não tivesse acesso à internet, não conseguiria me conectar com as pessoas que não podem estar perto de mim, mantém o contato e diversifica a rotina. As redes sociais são um bom passatempo ao visualizarmos que não estamos sozinhos nesse momento difícil”, declara Ana Júlia.

 

 

 

Do nada sem internet, já imaginou?

Você já se imaginou sem internet? Tendo o contato com a internet, é difícil de imaginar. Assim é para Dannielly Melo: “sinceramente, eu não imagino a minha quarentena sem internet, mas como eu não teria nem trabalho, nem faculdade, talvez eu passasse muito mais tempo com a minha família, poderíamos nos divertir com jogos de tabuleiro e assistir filmes pela TV. O que na verdade era mais comum antes de toda essa tecnologia”.

 

Ana Júlia também diz que não se imagina sem internet, muito menos no cenário atual, mas caso não acessasse a internet, a quarentena seria um momento de muita reflexão. “Se somente eu não tivesse acesso à internet, imagino que seria um momento de maior autorreflexão, silêncio e autoconhecimento. Também, uma forma de aprender, mesmo que “goela abaixo”, a viver sozinha e para si, sem a constante vontade que temos de ter gente a nossa volta”.

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No Centro-Oeste, 30% das pessoas não têm acesso à internet, sendo que 60% não aderem o acesso por acharem muito caro.

As redes sociais são um bom passatempo ao visualizarmos que não estamos sozinhos nesse momento difícil”, diz Ana Júlia.

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sobre o autor:

Isadora Gomes, gerência e planejamento do site do webdoc; autora da reportagem “Com e sem internet” — Relatando dois lados do isolamento social: pessoas com internet e o analfabeto digital.

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