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Consequências Psicológicas do Isolamento Social

Pessoas com sintomas de transtornos psicológicos encontram dificuldade para enfrentar o período de quarentena. Algumas seguem sem nenhum acompanhamento. 

Seis meses desde 31 de dezembro de 2019 e o mundo continua imerso em uma pandemia, que teve origem na China. A doença, batizada de covid-19, é um inimigo invisível, que se espalha de uma forma rápida e silenciosa. No dia 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional, devido aos casos de contaminação pelo novo coronavírus. A situação é de pandemia.

O vírus se espalhou pelo mundo e alguns países aderiram às medidas de isolamento social para a contenção da covid-19. Em 22 de janeiro deste ano, foi ativado no Brasil o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para o novo coronavírus (COE-nCoV). Essa estratégia está prevista no Plano Nacional de Resposta às Emergências em Saúde Pública, do Ministério da Saúde.

Com o isolamento social e afastamento das pessoas de suas rotinas, ao passar dos dias, as consequências surgiriam. Por se tratar de uma quarentena imposta pelos governos como medida de proteção, muitas pessoas foram pegas de surpresa.

Uma das consequências do isolamento são os problemas psicológicos. Para aqueles que já tinham algum distúrbio emocional o distanciamento social pode agravar os sintomas. E quem não tinha nenhum diagnóstico, agora está mais propenso  a desenvolver algum transtorno.

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O período de isolamento está sendo complicado para aqueles que já sofriam com doenças psicológicas

A psicóloga Débora Campos explica: “aqueles que já têm problemas com ansiedade, depressão e luto, seja por perda de pessoas, perda do trabalho ou relacionamento, terão um aumento nos sintomas e na vulnerabilidade”. A terapeuta completa explicando que pessoas que não apresentavam um quadro clínico poderão ter dificuldade em lidar com a mudança da rotina e sair da zona de conforto, assim como frustração por adiar metas e compromissos planejados.

Segundo a psicóloga, já na primeira semana de quarentena foi possível perceber as pessoas mais confusas, angustiadas, mas sem sentir ainda as consequências de ficar muitos dias em casa. Depois de duas a três semanas a procura por ajuda psicológica cresceu.

Débora Campos conta ainda que há casos de pessoas saudáveis que, de tanta ansiedade, passam a sentir os sintomas da doença causada pelo vírus.

 

Assim como situações de pessoas que ficam gripadas ou alguém da família adoece e se preocupam por não saberem distinguir o que é gripe, dengue ou covid-19, três doenças em alerta no Distrito Federal.

Campos também explica que ficar em casa sem saber como pagar as contas é mais um agravante para pessoas que apresentam quadros de ansiedade. Esses fatores, somados com a falta de contato social gera ansiedade.

relato das vítimas

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Psicóloga explica que as mulheres com filhos, o trabalho é dobrado, aumentando a carga dentro de casa com mais pessoas comendo e sujando o ambiente

Marilda Lopes, de 53 anos, é viúva e foi diagnosticada com depressão. Com a chegada da pandemia, foi demitida da empresa em que trabalhava. Marilda conta que começou a ter crises de pânico, motivadas pela preocupação de estar no grupo de risco e morar com a mãe, idosa de 94 anos. Ela relata que fica mal quando assiste as notícias sobre a covid-19 por não saber se deve acreditar nas informações.

Ela explica que nunca procurou atendimento psicológico por vergonha e sensação de fracasso. Para Marilda, que sempre teve uma vida muito ativa, estar em total isolamento tem causado sintomas de síndrome do pânico e ansiedade .

De acordo com a psicóloga Débora Campos, as consequências do isolamento podem ser insônia ou excesso de sono, alimentação desregulada, maior consumo de jogos e programas de televisão. Podem aumentar os casos de sedentarismo, problemas de saúde e nas articulações.

Já no caso de mulheres que trabalham e têm filhos, o trabalho é dobrado. Isso porque há aumento do volume de tarefas domésticas, com mais pessoas comendo e sujando o ambiente. Para aqueles que já trabalhavam de casa, a carga horária é dobrada por se exigirem mais e quererem sanar o tédio.

O período de isolamento tem sido mais difícil para pessoas que já sofriam com doenças ou transtornos psicológicos. A falta de conhecimento sobre atendimento à distância prejudica o tratamento de algumas pessoas que deixaram o acompanhamento com psicólogos por conta do distanciamento social.

Caroline Klein, 36 anos, diagnosticada com transtorno de bipolaridade, com predominância de depressão e ideações suicidas. Caroline conta que fazia terapia, mas que, devido ao isolamento, teve as sessões suspensas. Ela relata que tem passado por crises de tristeza e muito choro. Vendo a situação em que se encontrava, pediu ajuda em grupos da internet e conseguiu encontrar uma psicóloga que atendesse online. Desde então, tem retomado as sessões de terapia.

Algumas pessoas terão problemas por ter que adiarem metas, compromissos, planejamentos. A terapia servirá para a pessoa ter o momento de colocar para fora todas essas emoções que, talvez, os familiares não terão paciência e nem emocional para ouvir e apoiar, por terem suas próprias demandas.

Priscila Almeida, 20 anos, tem problemas com ansiedade e conta que tem uma mãe cardíaca e um pai diabético tipo 2. Para ela, o maior medo é contaminar os pais, que são do grupo de risco, preocupação que conflita com a angústia de estar o dia todo dentro de casa. Priscila acrescenta que não consegue dormir direito a noite. Relata que sempre escuta das pessoas que o seu problema é apenas “frescura”. Para ela, os outros não se importam muito com quem passa por essas dificuldades.

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sobre o autor:

Lays Guimarães, editora de foto e infográfico; autora da reportagem: "Isolamento Social e a Importância do tratamento perante consequências psicológicas"; autora da curadoria jornalística: "doenças mentais em período de pandemia".

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